“Quando os cinco sentidos e a mente estão parados, e a própria razão descansa em silêncio, então começa o caminho supremo.
Esta firmeza calma dos sentidos chama-se Yoga. Mas deve-se estar atento, pois o Yoga vem e vai”.
Katha Upanishad VI

27 fevereiro 2008

A prática de Yoga no período menstrual

Durante o período menstrual, a mulher tem a possibilidade de fazer uma pausa para meditar sobre as manifestações do inconsciente – mostradas no período pré-menstrual - e se preparar para agir conscientemente no ciclo daquele mês, tendo o seu ápice no período fértil. Infelizmente, como a desarmonia e a falta de naturalidade ainda imperam na vida planetária, as manifestações do período pré-menstrual ainda nos causam tremenda incompreensão e desconforto (mais detalhes vide Apostila TPM).
Em muitas tradições antigas o Tempo da Lua (menstruação) é considerado um tempo sagrado da mulher, durante o qual ela é honrada sendo a Mãe da Energia Criativa. Durante este período ela deve se liberar das energias antigas que seu corpo vinha carregando, e preparar-se para a religação com a fertilidade da mãe Terra. Nossas ancestrais sabiam o quanto era importante permitir que a mulher pudesse se aprofundar no seu Espaço Sagrado durante este período de religação, pois as mulheres eram e são as portadoras da abundância e da fertilidade.
As mulheres honram seu Caminho Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente à sua natureza receptiva. Ao confiar nos ciclos de seus corpos e permitir que as sensações venham à tona dentro deles, as mulheres vêm sendo Videntes e Oráculos de suas tribos há séculos.
Os médicos Ayurvédicos (sistema tradicional de cura da Índia) acreditam que as mulheres levam uma vantagem positiva sobre os homens por sangrarem todos os meses, vantagem este que se traduz em uma vida mais longa.
Em primeiro lugar, o ciclo menstrual ajuda a mulher alcançar um equilíbrio entre a atividade e o repouso, entre as energias voltadas para fora e as de introspecção.
Em segundo lugar, de acordo com a visão ayurvédica, o processo de menstruação purifica o corpo a cada período de 25 a 35 dias, recolhendo todos os detritos e as toxinas (chamadas amas) que se acumulam ao longo do mês e expelindo-os para fora do corpo juntamente como sangue menstrual.
Esse ama contém tudo o que não foi digerido – comida, emoções, fatores de tensão – e que ficou estagnado no corpo.

Yamas e Niyamas

A codificação do Raja Yoga está descrita no texto Yoga Sutras, de Patañjali (100 a 200 dc).
Este texto está dividido em quatro capítulos. O primeiro é Samadhi Pada, que fala da iluminação em si (samadhi). Os Yamas e Niyamas estão no segundo, que chama-se Sadhana Pada, onde encontramos os meios para se atingir o Yoga. O erceiro capítulo é Vibhuti Pada, um texto que nos remete aos poderes que o yogue depara em seu caminho.
Kaivalya Pada é o quarto capítulo onde o tema é a redenção.
Para lidar com o sofrimento e alcançar o objetivo de felicidade suprema, o Yoga Sutras propõe uma estratégia de oito passos, chamado Astanga Yoga (não confundir com Astanga Vinyasa Yoga).
Ainda que possa nos lavar a uma conduta ética, o objetivo maior da prática dos yamas e niyamas é o de aquieta a mente. Foram definidos como princípios éticos para a conduta pessoal, nos mostrando como nossos atos trazem implicações para nós.

YAMAS
Pode ser traduzido como “refreamento”.
Esses mandamentos são as regras da moralidade para a sociedade e para o indivíduo, que, se não forem obedecidas acarretam o caos, a violência, a mentira, o roubo, a dissipação e a ambição. As raízes desses males são as emoções da cobiça, do desejo e do apego, que podem ser fracas, médias ou excessivas. Elas só trazem a dor e a ignorância. Patañjali ataca a raiz desses males mudando a direção do modo de pensar, segundo os princípios de yamas.

Ahimsa
“a” negação
“himsa” violência/assassinato
O yogue acredita que matar ou destruir alguma coisa é insultar seu Criador.
A violência nasce do medo, da fraqueza, da ignorância ou da inquietação. Ela pode se manifestar no individuo, atuando em si mesmo, ou sendo direcionado para outro ser vivo. Através da consciência, o yogue contempla a criação em todos os seus aspectos com amor.
Para ganhar essa liberdade e visão faz-se necessária uma mudança de atitude perante a vida e uma reorientação da mente.
A liberação do medo – abhya – só é conseguida para aqueles que levam uma vida pura. O medo sujeita o homem e o paralisa. Teme o futuro, o desconhecido e o invisível.
Classifica-se dois tipos de ira. Um cuja raiz é o orgulho, que rebaixa a mente e a impede de ver as coisas na proporção devida e torna o julgamento falho. O segundo tipo é o que leva ao crescimento espiritual, quando o yogue se enfurece consigo mesmo, quando sua mente se rebaixa e todo o seu conhecimento e experiência não o impede de agir insensatamente.
Ahimsa gera delicadeza de espírito e visão de amor aos seres vivos.

Satya
Verdade
Se a mente pensa em coisas verdadeiras, se a língua fala coisas verdadeiras e se toda a vida está assentada na verdade, então fica-se apto para a união com o Infinito.
A realidade, em sua natureza fundamental, é o amor e a verdade, e se expressa através desses dois aspectos.
É a veracidade do pensamento, da palavra e da ação. É um alicerce para o coração puro. Então as coisas de que se necessita virão de encontro ao yogue.

Asteya
“a” negação
“steya” roubar
Não é apenas o ato de tirar o que é do outro sem permissão. É também o abuso de confiança, a má administração e abuso.
Significa também desenraizar as crenças subconscientes ligadas à falta e à carência que causam cobiça e necessidade constante de acumular coisas. Trazendo ainda a idéia de asteya para a pratica dos asanas, essas mesmas idéias subconscientes podem estar presentes quando, durante uma prática, você não dá o melhor de si, quando se economiza numa postura. Cada postura nos dá a energia necessária para realizá-la e, se nos prendemos a sensações de falta e carência, não podemos nos colocar por completo no que fazemos.

Brahmacarya
Celibato
“O que caminha com Brahman”
Termo utilizado para designar o estudante bramânico durante o período em que aprendia os Vedas aos pés de um mestre. Como a castidade era exigência disciplinar, brahmacarya tornou-se sinônimo de continência dos impulsos sensoriais, sobretudo o sexual.
Brahmacary é aquele que vê Brahman em tudo.
Patañjali enfatiza a continência do corpo, da palavra e da mente.
Quando se está apoiado na brahmacarya, desenvolve-se uma base de vitalidade e de energia, uma mente corajosa e um intelecto poderoso, o que nos capacita a lutar contra qualquer tipo de injustiça. O brahmacary usará sabiamente as forças que gera: utilizará as forças físicas para cumprir a obra do Criador, as forças mentais para a difusão da cultura e as forças intelectuais para o crescimento da vida espiritual.
Brahmacarya é a bateria que acende a tocha da sabedoria.

Aparigraha
“a” negação
“parigraha” acumular
Nos conscientiza da libarteção do hábito de nos identificarmos com as coisas que nos rodeiam para nos aproximarmos da nossa essência.
Acumular coisas implica a falta de fé em Deus.
O yogue torna a vida simples e treina sua mente para não ressentir a perda ou falta de alguma coisa.
Então tudo aquilo de que ele necessitar virá a ele por si só e na hora certa.
A vida do homem comum está repleta de uma série interminável de pertubações, de frustrações e de suas reações a elas. Desta maneira dificilmente consegue manter a mente em equilíbrio. O yogue fica satisfeito com o que quer que lhe aconteça. Conquista a paz que o leva além dos reinos da ilusão e da matéria.

NIYAMAS
São as regras de conduta que se aplica às práticas individuais do yogue.

Saucha
Pureza
A pureza do corpo é essencial ao bem-estar. Banho purificam o corpo externamente, asanas o purificam internamente, remove toxinas e impurezas causadas por excessos, pranayama limpa e ventila os pulmões. A limpeza da mente e de suas emoções perturbadoras (ódio, paixão, ira, luxúria, cobiça, ilusão e orgulho) são lavadas através de bhakti – devoção. As impurezas do intelecto são queimadas no fogo de savadhyaya – estudo do Eu.
Através de saucha o corpo é o instrumento do yogui na busca do conhecimento espiritual.
“O corpo é o seu templo. Mantenha-o puro e limpo para que a alma resida nele”.B.K.S. Iyengar
Existe a limpeza dos alimentos e o que é ingerido para provocar saúde e não toxinas (sujeiras) no organismo.

Santosha
Contentamento
A mente descontente não pode se concentrar.
Contentamento dá uma bem-aventurança insuperável. Um homem contente é um ser completo, pois conheceu o amor do Criador e cumpriu o seu dever.
Se não encontrarmos contentamento nas coisas que temos hoje, estaremos numa busca constante de felicidade que nunca será alcançada, já que sempre haverá novos desejos.

Tapas
deriva da raiz “tap” queimar
É o esforço ardente sobre quaisquer circunstâncias para a consecução de um objetivo bem de definido na vida. Envolve purificação, autodisciplina e a austeridade. Está relacionado ao corpo, à fala e à mente.
Ganha-se coragem e sabedoria, integridade, rápido progresso e simplicidade.

Svadhyaya
“sva” eu
“adhyaya” estudo
estudo do eu
Está associado ao autoconhecimento e busca por aquilo que realmente somos. É pôr um fim à ignorância, trazendo o conhecimento. Fazemos o uso das nossas atividades como um espelho para descobrirmos mais sobre nós mesmos, seja nos asanas ou nos relacionamentos com os outros e nós mesmos.

Ishvara Pranidhana
“Consagração ao Senhor”
Pode ser visto como um ato de entrega das ações e da vontade a algo maior que si próprio.
Mera força física sem bhakti – devoção - é letal. A simples adoração sem força de caráter é como um narcótico.
Quando o sentido do “eu” e do “meu” desaparece, a alma individual atinge sua maturidade.